O que é endometriose?

O que é endometriose?

Endometriose é uma doença caracterizada pela presença de células (epitélio glandular e/ou estroma) semelhantes ao endométrio (tecido que normalmente reveste o interior do útero), fora do endométrio e do miométrio, usualmente associada a processo inflamatório (definição atualizada em 2021).

Figura 1: útero e suas camadas, destacando o endométrio (End) – camada de “dentro” do útero  e o miométrio (Mio) – parede muscular do útero.

A endometriose atinge cerca de 1 em cada 8-10 mulheres, o que representa mais de 7 milhões de brasileiras e cerca de 190 milhões de mulheres em todo o mundo. Apesar de muito frequente na população feminina, infelizmente, ainda é pouco conhecida pela população em geral e, também, entre profissionais da saúde. Por esse motivo, o diagnóstico da endometriose costuma ser tardio, atrasado, levando em média, de 8-10 anos a partir do primeiro sintoma referido pela paciente. Isso se repete em diferentes países do mundo. O principal motivo desta demora no diagnóstico está na “normalização” da dor ou da cólica menstrual especialmente, como já foi mapeado em estudo realizado recentemente no Reino Unido. Mas, na verdade, o diagnóstico da endometriose não é difícil. Ouvir com atenção as queixas das pacientes (escuta ativa) e fazer um exame físico bem detalhado são fundamentais e já ajudam muito na suspeita clínica. Para confirmar, exames de imagem especializados devem ser solicitados pelos especialistas, como explicado com mais detalhes no artigo sobre como diagnosticar a endometriose.

A endometriose pode acometer diferentes órgãos e estruturas do corpo, principalmente na região pélvica, ao redor do útero, como por exemplo: ligamentos uterinos (ligamentos uterossacros e ligamentos redondos), região retrocervical (atrás do colo uterino), tórus uterino (região posterior do útero onde os ligamentos uterossacros se inserem), assim como na região retrovaginal (atrás da vagina) e na própria parede da vagina de forma infiltrativa; além disso, locais como a bexiga, os ureteres (estruturas tubulares que conectam os rins à bexiga transportando urina), as tubas uterinas, os ovários e a porção final do intestino grosso (reto e retossigmóide) são frequentemente afetados pela endometriose na região pélvica. Mais distante da pelve, podemos encontrar a presença da endometriose no apêndice cecal, no ceco (início do intestino grosso, do lado direito da barriga), no intestino delgado (fino), porção denominada de íleo, assim como no diafragma (músculo que divide a cavidade abdominal da cavidade torácica). Em casos mais raros e extremos, a endometriose pode acometer a cavidade torácica, atingindo a pleura (membrana / tecido que recobre a caixa torácica) e também o parênquima pulmonar (as células do pulmão).

Quando a endometriose atinge a região do tórax, sintomas específicos podem surgir, em uma situação denominada síndrome da endometriose torácica, também melhor explicada no artigo que trata somente deste tópico – quais os sintomas da endometriose, como descobrir a endometriose.

Figura 2: exemplos de endometriose

Durante o período menstrual, esse tecido fora do útero semelhante ao endométrio também se torna espesso e pode sangrar, mas como não tem uma saída como o útero (através da menstruação), pode levar à inflamação, formação de coágulos e cicatrizes dentro dos tecidos acometidos, motivando dor intensa na maioria dos casos, além de outros problemas como a infertilidade. 

A endometriose é a principal causa feminina de infertilidade e de dor pélvica crônica, duas das principais sequelas que ela pode deixar para a mulher se não for tratada precocemente e persistir com sintomas por muitos anos, como acontece em muitos casos, infelizmente. 

A origem da endometriose ainda não está totalmente esclarecida, apesar da doença ter sido descrita e “batizada” como endometriose há quase cem anos, em 1927, por John Sampson. Além de descrever e dar nome à doença propriamente dita, ele também idealizou naquela ocasião, a teoria da menstruação retrógrada, tentando explicar como as células do endométrio poderiam atingir a cavidade abdominal para depois implantar nos tecidos. Esta é sem dúvida a teoria mais difundida para tentar explicar a origem da endometriose mas é possível dizer, atualmente, que não é a mais completa para explicar todas as formas que a endometriose pode se apresentar clinicamente e anatomicamente (locais em que pode surgir). Outra teoria, ainda mais antiga que a teoria da menstruação retrógrada e que tem mais plausibilidade para explicar a origem da doença é a teoria embrionária. Esta última defende que a endometriose seria resultado de um “caminho equivocado” de algumas células (ducto de Müller) durante a formação do embrião, ainda no útero materno. Assim, de acordo com essa teoria, as mulheres já nascem com a endometriose mas só começam a manifestar sintomas, a partir da primeira menstruação, quando os ovários passam a produzir hormônios de forma sincronizada. Para saber mais, acesse o artigo que fala sobre estas e as demais teorias que tentam desvendar qual é a origem da endometriose

O entendimento dessas teorias é de fundamental importância para que o tratamento seja o mais adequado possível. Conceitos equivocados podem levar a tratamentos ineficazes.

O tratamento da endometriose é multidisciplinar e envolve cuidados com o estilo de vida, incluindo uma boa alimentação e exercícios físicos regulares, bem como medicações analgésicas para aliviar a dor, terapias hormonais para bloquear o ciclo menstrual natural, visando minimizar e controlar a dor e, em situações bem estabelecidas, a cirurgia para remover os tecidos afetados. Entenda também como tratar a endometriose no artigo específico sobre este tema. A depender de uma série de fatores que devem ser analisados em consulta médica especializada, dos objetivos de cada paciente, dos tipos de endometriose, entendendo se é um caso de maior ou menor gravidade, dos locais acometidos e dos principais sintomas, podemos individualizar a conduta para o tratamento mais adequado em cada situação.

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Dr. Giuliano Borrelli
CRM: 116.815 – RQE: 55.634-1

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