Endometriose profunda é grave? Quais os tipos de endometriose?

Endometriose profunda é grave? Quais os tipos de endometriose?

A endometriose pode se apresentar no corpo humano de diferentes formas e características, variando não apenas de locais de acometimento mas também na morfologia e aspecto das lesões. 

A primeira classificação dos tipos de endometriose mais conhecida, estabelecida em 1991 e com seus conceitos atualizados em 2021, exatos 30 anos após a primeira descrição, divide a endometriose pélvica, que acomete a cavidade abdominal em três tipos:

  • Endometriose ovariana (Endometrioma): presença de tecido similar ao endométrio em forma de cistos nos ovários, chamados de endometriomas e também conhecidos como cistos de “chocolate” pelo seu aspecto amarronzado característico sempre que é aspirado / drenado. Os cistos podem ser de invaginação, formados a partir do peritônio adjacente ao ovário, local da endometriose peritoneal superficial e profunda, bem como cistos verdadeiros, com a cápsula do cisto contendo células similares ao endométrio e o conteúdo com a coloração amarronzada típica.

Figura 1: Endometrioma (Endometriose ovariana em forma de cisto)

  • Endometriose peritoneal superficial: presença de tecido similar ao endométrio acometendo a superfície do peritônio, que reveste a cavidade abdominal e pélvica. As lesões podem aparecer de diferentes aparências e cores, como claras, esbranquiçadas, por vezes vermelhas ou mais frequentemente escuras, azuladas, roxas ou pretas.

Figura 2: Endometriose superficial – lesões escuras

  • Endometriose profunda: presença de lesões de  tecido similar ao endométrio se estendendo na superfície do peritônio ou abaixo dela, usualmente formando nódulos e são capazes de invadir as estruturas adjacentes. Normalmente estão associadas a fibrose e disruptura da anatomia normal.

Figura 3: Endometriose profunda – formação de nódulos

Tanto a endometriose superficial como a endometriose profunda podem se apresentar de forma isolada (presença apenas de lesões superficiais ou apenas lesões profundas) em certos casos ou de forma concomitante, em outras (presença de lesões superficiais e profundas na mesma paciente). Já a endometriose ovariana raramente está de forma isolada. Na grande maioria das vezes o endometrioma se forma a partir de uma lesão de endometriose peritoneal profunda. Assim, a presença do endometrioma ovariano sugere sempre a presença de endometriose profunda, que muitas vezes está “escondida” atrás dele e deve sempre ser investigada.

Uma outra forma de classificar a endometriose por tipos faz relação com os diferentes locais de acometimento. Dessa forma, teremos diferentes “sobrenomes” para endometriose a depender da estrutura ou órgão acometido. Aqui listamos os mais frequentes e de importância para o tratamento adequado da doença.

  • Endometriose intestinal: presença de tecido similar ao endométrio (endometriose) na parede do intestino. Embora a maioria das lesões intestinais afetam o reto e o retossigmoide (porção final do intestino grosso), podemos encontrar endometriose intestinal acometendo o intestino delgado (na sua porção final denominada de íleo), o ceco (início do intestino grosso do lado direito do abdome) e o apêndice cecal. Lesões na camada serosa (peritoneal) do intestino são consideradas como endometriose superficial.
  • Endometriose de bexiga: presença de tecido similar ao endométrio envolvendo o músculo detrusor e/ou o epitélio da bexiga (camada mucosa). Lesões na camada serosa (peritoneal) da bexiga são consideradas como endometriose superficial.
  • Endometriose de ureter: presença de tecido similar ao endométrio envolvendo a parede de um ou ambos ureteres.
  • Endometriose extrapélvica: presença de tecido similar ao endométrio fora da cavidade pélvica. Temos como principal exemplo a endometriose de diafragma e também a endometriose torácica (que acomete a cavidade do tórax).
  • Endometriose de parede abdominal: presença de tecido similar ao endométrio na parede do abdome. Pode se apresentar de duas maneiras. A primeira, também denominada de endometriose de cicatriz ou endometrioma de parede, acomete a região de uma cicatriz cirúrgica prévia. A mais comum é a cesariana. A outra forma de endometriose de parede abdominal é a endometriose umbilical, que se apresenta habitualmente como um nódulo escurecido, doloroso, que pode fazer a paciente “sangrar pelo umbigo” durante a menstruação. A presença de endometriose umbilical é indicativo de endometriose profunda na pelve.

    Assim, sempre que identificarmos um nódulo com essas características no umbigo, devemos investigar endometriose em outros locais.

Esses são apenas alguns exemplos, os principais tipos de endometriose, já que ela pode afetar outras áreas do corpo também. A gravidade da doença e a intensidade dos sintomas da endometriose variam de pessoa para pessoa. Nem sempre a doença mais avançada será a de maior intensidade dos sintomas. 

Mas afinal, como muitas pessoas pensam só de ouvir o nome pela primeira vez, a endometriose profunda é grave mesmo? E a resposta mais correta é…depende! Isso porque ela pode sim ser grave em alguns casos, mas felizmente não é grave na maioria dos casos! E isso você, que por acaso possa ter recebido este diagnóstico, precisa saber!! Mas como saber se o seu caso é grave ou não? Sendo avaliada e orientada por médicos especializados no assunto, com expertise suficiente para entender em que situação o seu caso se encontra. 

A gravidade da endometriose profunda vai estar relacionada principalmente ao local acometido (órgão ou estruturas) e extensão da lesão, que poderão comprometer alguma função daquele órgão e/ou trazer possíveis sequelas irreversíveis. São exemplos de casos considerados potencialmente graves: endometriose no ureter (pode obstruir o ureter e causar danos irreversíveis no rim), endometriose acometendo o íleo (intestino delgado, que tem maior risco de obstrução), o ceco (maior risco de obstrução na região da válvula ileocecal – transição entre intestino delgado e intestino grosso) ou o apêndice (não se pode descartar neoplasia de apêndice),  endometriose intestinal com 50% ou mais de acometimento da circunferência da alça (pelo risco de obstrução), endometriose atingindo nervos somáticos, principalmente das raízes sacrais e nervo ciático (pela possibilidade de levar a quadros de dor crônica e sequelas sensitivas / motoras). São todos casos com maior probabilidade de precisar de tratamento cirúrgico da endometriose.

Por outro lado, importante dizer que a maioria das lesões de endometriose profunda acomete a região retrocervical (atrás do útero), especialmente os ligamentos útero-sacros e, nestes casos, não são potencialmente graves, quando não remetem a nenhuma situação descrita acima. 

Conhecer os diferentes tipos de endometriose que podem acometer cada paciente é de fundamental importância para ambos, médicos e pacientes. Para os médicos, irá ajudar a direcionar o planejamento do tratamento ideal para cada caso, como consta neste artigo específico – como tratar a endometriose. Para as pacientes, conhecer os tipos de endometriose que estão presentes no próprio corpo irá ajudar muito no entendimento de diversos sintomas da doença, que muitas vezes deixam de ser valorizados como sendo da endometriose, como explicado em mais detalhes no artigo – quais os sintomas da endometriose / como descobrir a endometriose?

Dr. Giuliano Borrelli
CRM: 116.815 – RQE: 55.634-1

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