A inteligência emocional como aliada no tratamento da endometriose

A inteligência emocional como aliada no tratamento da endometriose

Receber o diagnóstico de endometriose é um momento ambivalente. Para muitas mulheres, há alívio por finalmente nomear uma dor que, por anos, foi invisibilizada. Mas junto com esse alívio, surgem sentimentos intensos como raiva, medo, tristeza e até culpa. A jornada para o diagnóstico costuma ser longa — a literatura médica aponta uma média de 7 a 10 anos — e essa espera pode deixar marcas profundas na saúde emocional.

Neste contexto, desenvolver a inteligência emocional pode ser um diferencial importante no enfrentamento da doença. Não se trata de “pensar positivo”, mas sim de reconhecer e lidar com os sentimentos com mais consciência, respeitando os próprios limites e acolhendo a si mesma com compaixão.

Para entender melhor os impactos da endometriose na saúde das pacientes, conversamos com a psicóloga Nádyla Batista, especialista em saúde da mulher aqui na Casa Endo. A seguir um resumo sobre a saúde mental e endometriose como um cuidado que precisa ser integrado.

A dor crônica e seu impacto na saúde mental

A endometriose é uma condição inflamatória que frequentemente causa dor crônica, o que afeta diretamente a saúde mental. A dor constante interfere no sono, no humor, na produtividade e nos relacionamentos. Além disso, pode levar a quadros de ansiedade, depressão e isolamento social.

Segundo a psicóloga Nádyla Batista, “a dor crônica é mais do que um sintoma físico: é um corpo que tem uma história com a dor e uma dor que tem uma história com aquela pessoa.” Ela explica que muitas pacientes relatam fadiga profunda, sensação de exaustão física e emocional, e dificuldade de manter atividades que antes faziam parte da rotina.

Essa experiência prolongada de dor pode afetar também a autoestima. Algumas mulheres relatam sentir que deixaram de ser quem eram. A autoestima fica fragilizada e o corpo, antes percebido com afeto, passa a ser visto como fonte de sofrimento.

A construção de um novo olhar sobre si mesma

Além da dor física, a endometriose pode impactar aspectos simbólicos da identidade feminina, como a sexualidade, a fertilidade e o desejo de ser mãe. O medo da infertilidade e a necessidade de procedimentos invasivos podem desencadear um processo de luto por um corpo idealizado.

É comum que mulheres com endometriose se sintam inadequadas ou culpadas por não atenderem expectativas — seja no trabalho, nas relações afetivas ou no autocuidado. Nesse sentido, o acompanhamento psicológico ajuda na reconstrução da identidade, promovendo um olhar mais compassivo e integrativo.

Como destaca a psicóloga da clínica, “o processo terapêutico nos permite escutar também o não dito. Trabalhamos juntas para resgatar a autonomia, os sonhos e o sentimento de pertencimento que muitas vezes são abalados.”

O papel da inteligência emocional

Na prática clínica, a inteligência emocional é a capacidade de reconhecer e acolher sentimentos, sem ser dominada por eles. Envolve nomear as emoções, identificar gatilhos e construir estratégias de enfrentamento que respeitem os limites do corpo e da mente.

Para mulheres que convivem com a endometriose, desenvolver a inteligência emocional pode significar:

  • Lidar melhor com a frustração de dias difíceis
  • Reduzir a culpa ao respeitar os próprios limites
  • Reconhecer que sentir raiva, tristeza ou medo não é sinal de fraqueza
  • Se comunicar de forma mais clara com médicos, parceiros e familiares
  • Fazer escolhas mais alinhadas com o que se sente e precisa

Dicas práticas para desenvolver a inteligência emocional

  1. Nomeie o que está sentindo
    Identificar emoções é o primeiro passo para lidar com elas. Pergunte-se: “O que estou sentindo agora?” e tente nomear: tristeza, medo, raiva, angústia, etc.
  2. Escreva sobre sua dor e seus dias
    Criar um diário emocional pode ajudar a reconhecer padrões e gatilhos, além de ser um espaço de expressão segura.
  3. Pratique o autocuidado realista
    Não é sobre rotinas perfeitas, mas sobre respeitar o corpo: dormir, se alimentar, descansar e pedir ajuda quando necessário.
  4. Estabeleça pequenas metas
    Quando a dor aparece, pensar no dia como um todo pode ser paralisante. Foque em um passo de cada vez.
  5. Busque apoio psicológico
    Ter um espaço de escuta profissional faz diferença. O acompanhamento psicológico ajuda a reconstruir a autonomia e a criar estratégias personalizadas.
  6. Inclua o movimento, mesmo que leve
    Quando possível, a atividade física — mesmo suave, como alongamento ou caminhada — contribui para a liberação de hormônios que auxiliam no bem-estar.

Sinais de alerta emocional

É importante ficar atenta a sinais de que as emoções estão pesando além da conta. Sentimentos persistentes de tristeza, irritabilidade, alterações no sono e apetite, sensação de inadequação e isolamento podem indicar a necessidade de buscar ajuda especializada.

Segundo a psicóloga Nádyla Batista, “a dor crônica, muitas vezes, retira a própria essência da pessoa. As mulheres passam a viver em estado de alerta, tentando prever ou evitar as crises, e muitas vezes deixam de sonhar”.

A endometriose afeta muito mais do que o corpo: ela toca na identidade, nos vínculos e na maneira como a mulher se vê no mundo. Desenvolver a inteligência emocional é uma forma de se reconectar consigo mesma em meio ao caos. Não para ignorar a dor, mas para não deixar que ela defina quem você é.

“A escuta qualificada e o acolhimento são fundamentais no cuidado dessas pacientes. Validar o sofrimento e construir um espaço terapêutico seguro ajuda a resgatar o senso de identidade e a confiança no próprio corpo.”

Na Casa Endo, entendemos que o cuidado precisa ser integral — físico, emocional e simbólico. A escuta sensível e o apoio psicológico são aliados importantes para que cada mulher possa viver com mais autonomia, leveza e verdade.

Gostou deste artigo? Compartilhe!
Dr. Giuliano Borrelli
CRM: 116.815 – RQE: 55.634-1

compartilhe nas redes sociais

Rolar para cima