O impacto invisível da endometriose nas carreiras femininas: o que as empresas precisam saber

O impacto invisível da endometriose nas carreiras femininas: o que as empresas precisam saber


Quantas mulheres você conhece que faltam ao trabalho por dor, mas silenciam o motivo?
Quantas estão lutando em silêncio para manter sua produtividade enquanto enfrentam uma doença crônica, ainda invisibilizada no ambiente profissional?

A endometriose é uma dessas condições — e seu impacto na vida profissional das mulheres é profundo, embora muitas vezes não seja levado em consideração por líderes e gestores.

Dor desde cedo: a realidade das adolescentes

A endometriose é uma condição inflamatória crônica que pode se manifestar ainda na adolescência, muitas vezes confundida com “cólica normal”. Mas não é normal sentir dor incapacitante. Segundo estudos, até 30% das adolescentes podem sofrer com cólicas menstruais intensas associadas à endometriose. 

Dessas, entre 30% e 50% faltam à escola ou ao trabalho pelo menos uma vez por ciclo menstrual. Para 15%, essa ausência ocorre com mais frequência.

Esses números indicam um problema que começa cedo e segue impactando toda a trajetória de vida das mulheres — inclusive sua vida acadêmica e suas primeiras experiências profissionais.

A dor continua: adultas e a perda de produtividade

A endometriose é uma das principais causas de dor pélvica crônica. Entre mulheres adultas que convivem com esse tipo de dor, 25% perdem ao menos um dia por mês acamadas, sem condições de realizar suas atividades. 

Essa perda mensal representa uma redução significativa de produtividade — tanto para as profissionais quanto para as empresas que não reconhecem ou não sabem lidar com essa realidade.

Mais do que um número, essa estatística representa mulheres que, por medo de parecerem fracas ou pouco comprometidas, silenciam sua dor. Mulheres que tomam medicações para suportar reuniões, que escondem a fadiga, que evitam falar sobre seu diagnóstico por receio de sofrer preconceito ou ser vistas como um “problema”.

O impacto nas carreiras femininas

Na prática, o que esses dados significam para as empresas?

  • Afastamentos recorrentes, mesmo que breves, que afetam metas, entregas e presença;
  • Desigualdade de oportunidades, já que muitas mulheres evitam se candidatar a cargos de liderança ou desafios maiores com receio de não conseguirem dar conta;
  • Ambientes hostis ou pouco compreensivos, onde o silêncio é a única opção diante da dor;
  • Perda de talentos, quando profissionais qualificadas sentem que não têm espaço para existir plenamente — com saúde, com limitações e com voz.

Mas o impacto vai além da produtividade. Para muitas mulheres, a endometriose também compromete a autoestima, os relacionamentos e o senso de pertencimento profissional. Viver com dor crônica sem acolhimento é um fardo solitário.

Dor invisível não é dor imaginária

Um dos maiores desafios da endometriose no ambiente corporativo é sua invisibilidade. Como não há feridas aparentes, muitas vezes a condição é minimizada, questionada ou ignorada. 

 Essa falta de compreensão aumenta o sofrimento psicológico das mulheres, que já enfrentam um diagnóstico difícil, tratamentos complexos e incertezas sobre sua fertilidade e qualidade de vida.

 Trata-se de uma doença real, que precisa ser reconhecida como um fator de impacto no desempenho profissional. E, como qualquer questão de saúde relevante, deve ser tratada com empatia, políticas adequadas e suporte.

O que as empresas podem (e devem) fazer

Reconhecer o impacto da endometriose nas carreiras femininas é o primeiro passo para criar um ambiente corporativo mais inclusivo. Algumas ações que podem fazer a diferença:

  • Promover informação e conscientização interna, por meio de campanhas educativas e rodas de conversa sobre saúde feminina;
  • Revisar políticas de saúde ocupacional e afastamento, oferecendo flexibilidade para mulheres que lidam com dores intensas;
  • Criar canais seguros de escuta, onde as colaboradoras possam falar sobre sua saúde sem medo de retaliação ou julgamento;
  • Estimular lideranças empáticas, especialmente homens em posições de gestão, para que saibam identificar e acolher situações delicadas;

Valorizar o desempenho com visão de longo prazo, entendendo que a constância na entrega não depende apenas da presença física diária, mas da construção de um ambiente onde todas possam performar com segurança e bem-estar.

Para além das empresas: uma pauta social

Falar sobre endometriose no trabalho é também falar sobre igualdade de oportunidades. É reconhecer que, para muitas mulheres, o custo do silêncio é alto demais. O silêncio perpetua o tabu, o preconceito e a exclusão.

Ao criar espaços de diálogo, acolhimento e flexibilidade, as empresas não apenas retêm talentos, mas contribuem para uma transformação social mais ampla, na qual saúde e trabalho não precisam ser opostos.

A endometriose não é apenas um desafio médico. É uma questão de saúde pública, de equidade de gênero e de respeito no ambiente de trabalho. Para que mais mulheres possam prosperar em suas carreiras, é urgente que empresas deixem de tratar a dor como algo invisível.

Ouvir, acolher e agir são verbos simples, mas potentes. E são eles que podem transformar a experiência de milhares de profissionais que, hoje, ainda escondem suas dores para parecerem mais fortes do que precisam ser.

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Dr. Giuliano Borrelli
CRM: 116.815 – RQE: 55.634-1

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