Quais os sintomas da endometriose? Como descobrir a endometriose?

Quais os sintomas da endometriose? Como descobrir a endometriose?

Na grande maioria dos casos a endometriose é sintomática, ou seja, manifesta algum sintoma que não é normal! Na maioria das mulheres que têm endometriose, a doença não é silenciosa! Ela dá diversos sinais ao corpo de que “algo errado” está acontecendo. Assim, podemos dizer que a endometriose é muitas vezes silenciada pelas pessoas (médicos, médicas, familiares, amigos, amigas, parceiros, parceiras) apesar de mostrar com suas diferentes faces, ao longo de muitos anos em muitos casos, que ela sempre esteve “lá dentro”. Isso faz total sentido quando entendemos melhor qual a origem da endometriose

Conhecer a fundo os principais sintomas que podem estar relacionados à endometriose é fundamental para chegarmos mais rapidamente ao diagnóstico da doença, que ainda nos dias atuais, leva muito mais tempo do que deveria. Em diferentes partes do mundo que já estudaram e avaliaram esses números, em média, o diagnóstico da endometriose leva de 8-10 anos, a partir do primeiro sintoma referido pela paciente. E o principal motivo é justamente a “normalização” de sintomas importantes, como a cólica menstrual severa, incapacitante, que já são indícios da atividade da doença, mas que são ignorados por muitos, por muito tempo. No artigo sobre como diagnosticar a endometriose tratamos deste assunto com detalhes e entendemos que sempre o diagnóstico começa com os sintomas. Sempre! 

Aqui neste artigo iremos abordar de forma minuciosa todos os principais sintomas que podem estar relacionados com a endometriose, passando pelos mais “comuns” e mais falados, complementando com muitos outros menos falados mas muito frequentes em muitas pacientes.

Começamos toda anamnese (conversa, entrevista com a paciente na consulta médica) com escuta ativa, ouvindo o que as pacientes têm a nos dizer. Indispensável dispensar um tempo da consulta para isso. Além das queixas referidas pelas pacientes, temos que, enquanto médicos especialistas no cuidado da mulher, perguntar de forma direta sobre alguns sintomas chave para auxiliar no diagnóstico. Esses sintomas são os mais falados, os mais comuns e se encaixam no mnemônico dos 6Ds da endometriose. Lembrando que não é necessário ter todos eles para termos o diagnóstico de endometriose. Apenas um já pode ser suficiente! São eles:

  • Dismenorreia: é a cólica menstrual, a dor que se repete todo mês com a menstruação. Essa é a dor mais “normalizada” de todas. Quem nunca ouviu: “sentir cólica na menstruação é normal”. Esse é o principal motivo do atraso no diagnóstico da endometriose. Quanto mais pessoas souberem disso, mais rápido mudaremos este cenário da demora no diagnóstico e, consequentemente, do tratamento. 
  • Dispareunia de profundidade: é a dor (na profundidade, no contato profundo) durante a relação sexual, que pode variar de acordo com a posição, sendo pior e mais intensa em algumas posições específicas como a de quatro apoios, por uma questão anatômica. Se você sente isso, muito provavelmente seja por conta da endometriose.
  • Dor pélvica acíclica: é a dor que se manifesta independente do ciclo menstrual, mesmo fora do período. Costuma ser um caminho “natural” para muitas mulheres que começaram desde muito cedo a manifestar dores importantes no período menstrual, com o tempo, evoluem para um quadro clínico de dor constante, mesmo após o período menstrual ou na ausência de menstruação, por uso de algum tratamento hormonal.
  • Disúria cíclica: é a dor ao urinar, que se repete e intensifica no período menstrual. Pode ser um sinal de endometriose próxima da bexiga ou já acometendo a própria bexiga urinária. Além da dor ao urinar, as mulheres podem apresentar aumento da frequência urinária, urgência miccional, noctúria (ter que acordar na madrugada para ir ao banheiro urinar), sangramento na urina no período menstrual (hematúria) e sensação de esvaziamento incompleto da bexiga (tenesmo vesical).
  • Disquezia cíclica: é a dor ao evacuar, que se repete e intensifica no período menstrual. Pode ser um sinal de endometriose próxima ao intestino ou já acometendo a própria parede intestinal. Além da dor ao evacuar, pode existir também o sintoma de sangue nas fezes (hematoquezia) e sensação de esvaziamento incompleto intestinal (tenesmo retal).
  • Dificuldade para engravidar (infertilidade): único dos seis sintomas não relacionados à dor mas muito importante no contexto da endometriose, já que cerca de 50% das mulheres com endometriose terão dificuldade para engravidar (infertilidade) por conta da doença.

Dentre os seis sintomas acima, sem dúvida, o que devemos ter maior atenção inicialmente é a dismenorréia, ou cólica menstrual, entendendo o histórico deste sintoma, desde a primeira menstruação (a menarca). Muitas mulheres, mais de 60%, que recebem o diagnóstico na vida adulta, referem ter tido cólica severa ou incapacitante já na primeira menstruação quando perguntadas diretamente sobre esse momento. A cólica menstrual pode ser dividida em leve, moderada, severa e incapacitante. Essa divisão de intensidade é muito importante para iniciar a suspeita de endometriose. Normalmente, a dor leve não requer algum tipo de medicamento para aliviar o sintoma e a mulher consegue manter habitualmente suas atividades naquele dia. A dor moderada pode necessitar de algum analgésico simples, de uso oral, que vai aliviar a dor e também não interfere nas atividades daquele dia. Essas características das cólicas podem estar presentes em mulheres sem endometriose ou em mulheres com endometriose e manifestação clínica (sintomatologia) considerada mais leve.

No entanto, a cólica severa e incapacitante já acendem um alerta para algum diagnóstico patológico por trás das cólicas e o principal diagnóstico neste caso, é a endometriose! Na cólica severa, sempre existe a necessidade de usar analgésicos, anti-inflamatórios, que por vezes não melhoram somente com as medicações de uso oral e requerem a administração de medicações endovenosas, motivando a ida frequente aos serviços de pronto atendimento para isso. Ainda assim, nestas situações, havendo boa resposta às medicações, as pacientes conseguem retornar a suas atividades do dia. Por fim, a cólica incapacitante é aquela que apesar de todas as medidas, incluindo medicações endovenosas, irá impossibilitar a menina ou mulher de realizar suas atividades naquele dia. Ela deixa a pessoa incapaz de sair de casa para realizar qualquer atividade ou compromisso naquele dia, tendo que ficar de cama literalmente. Perdas de aula na escola, faculdade, dia de trabalho, lazer, esportes, eventos sociais, todas essas situações podem ser impedidas por conta da dor. Ao nos depararmos com essa informação clínica, antes de qualquer exame, dificilmente erraremos se pensarmos no diagnóstico de endometriose como responsável por essas dores incapacitantes. Fica o alerta!

Mas os sintomas que podem se manifestar no corpo da mulher por conta da endometriose não acabam nos descritos acima, nos 6Ds. Temos ainda uma lista de dezenas de sintomas, por vezes considerados inespecíficos, que de fato podem estar associados a outras patologias, mas que, na mulher com suspeita de endometriose, que apresentem adicionalmente esses sintomas, a principal causa deles pode ser sim a endometriose.

Podem ser sintomas comuns em mulheres com endometriose: fluxo menstrual intenso, menstruação prolongada, dor lombar, dor que irradia para as pernas, pressão abdominal, inchaço / distensão abdominal, aumento de gases e movimentos intestinais dolorosos, fadiga, exaustão, corpo cansado com a sensação de falta de energia, dores no estômago, náuseas no período menstrual, dor na ovulação, constipação (dificuldade para evacuar) ou diarréia, dor ou pressão na região vaginal, ansiedade, depressão, dor de cabeça frequentes, enxaqueca, que pode se intensificar no período pré-menstrual ou na menstruação, mal estar constante, sensação de estar doente, anedonia (falta de prazer em atividades prazerosas), alexitimia (incapacidade para expressar emoções ou “sem palavras para as emoções”).

Além de todos esses sintomas gerais, muitos deles relacionados ao processo inflamatório crônico e sistêmico da endometriose, ainda temos sintomas específicos da síndrome da endometriose torácica, que se manifesta na presença de endometriose acometendo o diafragma e a cavidade torácica.

Os mais comuns são: dor no ombro (especialmente do lado direito, no período menstrual), dor embaixo da costela (especialmente do lado direito, no período menstrual), dor para respirar e dor no tórax (mais comum do lado direito) no período menstrual, pneumotórax catamenial (ar fora do pulmão percebido como bolhas no tórax no período menstrual, a direita principalmente) associado a falta de ar, além de dor na região dorsal (nas costas, principalmente a direita, no período menstrual).

É importante ressaltar que nem todas as mulheres com endometriose apresentam a maioria desses sintomas. A presença de um ou alguns desses já pode ser suficiente para a suspeita clínica. A intensidade dos sintomas pode variar de pessoa para pessoa. Se você está preocupada com a possibilidade de ter endometriose, baseado nos sintomas que você sente, é recomendável procurar um médico que tenha bastante conhecimento no assunto, para possibilitar um diagnóstico preciso e entender como tratar a endometriose no seu caso.

Dr. Giuliano Borrelli
CRM: 116.815 – RQE: 55.634-1

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